O espaço por si só, já oferecia uma bela paisagem. Em outras épocas, alguns indivíduos relataram situações fabulosas ocorridas ali mesmo no pátio central. Outrora, uma espécie de vale criativo de pedras e espelhos. Houve um tempo, quando o sol era escaldante e o ar irrespirável, que o Templo abrigou centenas de famílias que buscavam proteção dos terríveis acontecimentos. A disposição dos imensos espelhos planos em ângulos agudos, assim como toda a arquitetura tinha um efeito multiplicador. A impressão reinante dos que se abrigavam neste espaço era a sensação de haver um número muito maior de pessoas do que de fato existia. É por conta desta presença e disposição dos espelhos que muitas décadas depois as memórias deste tempo sugerem um Templo de dimensões colossais. Sabe-se também da existência de indivíduos que chegaram ainda bebês e que ali permaneceram abrigados e protegidos durante alguns anos. Quando os terríveis acontecimentos não mais tiveram razão de ser, muitos destes indivíduos, que cresceram junto aos espelhos, mostraram-se incapazes posteriormente de uma vida regular. Os resultados desta infância singular foram os mais diversos. Alguns procuravam em vão os seus duplos. A forma mais recorrente desta busca assemelhava-se a uma espécie de dança assimétrica, composta de movimentos que se alternavam entre bruscos e rápidos, lentos e congelantes. Não era incomum encontrar no meio da multidão indivíduos que se agachavam inesperadamente quando realizavam suas tarefas diárias a fim de encontrar uma correspondência do movimento à maneira de um reflexo servil. Se estes últimos apostavam na surpresa, outros acreditavam que ações mais marcadas podiam ter resultados mais promissores. Uma encontrar-se incessante, que lhes marcaram a vida, possivelmente a dos seus descendentes.